quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vá-se embora, mas volte!


A fumaça se esvai. Cada trago do cigarro que eu puxo para dentro dos pulmões, causa um batimento cardíaco acelerado; efeito contrário, o que não era para ser e acontece. O coração; não o órgão, apenas bate sem razão. Não sabia se o que doía mais era a dor da fome ou  da indecisão alheia, e a noite caía leve como um véu, antitecamente pesada como uma tempestade sobre seu ser. E aí que comecei meu pranto. Como conceber dentro de si que o amor (puro?), ingênuo, virgem que há cinco meses experimentara em sua plenitude, agora, sofrer uma mutação, transformando-se inocentemente num sentimento-coisa ainda sem definição? Olhou para o cigarro, para o teto e para dentro de si e suplicou a mágoa que fosse embora, mas ela insistia em ficar. Pior! Alimentava-se injustamente de sua fragilidade emocional, e crescia no peito como uma mancha negra num tecido branco, e isso a obliterava tão lenta e prazerosamente como a uma tortura de um jogo sádico que ali se iniciara em conflito dentro dela. Seu corpo era humano e precisava de sexo. Talvez, aquele prazer primeiro de que desfrutara quando o sentimento recíproco concebeu-se no ato pleno de amor, daquele gozo que experimentara quando permitiu-se a si explorar o novo mais uma vez, aquele caminho virgem que decidira trilhar sem medos agora tornava-se tão distante quanto um sonho desolado. Era doloroso ter que admitir que o presente que pedira com tanto sacrifício aos deuses agora tivesse que passar para outras mãos, ou simplesmente, ter que ser condenado a permanecer num passado que não queria se conformar presente em sua vida. Queria chorar mas não tinha lágrimas nos olhos, talvez seu coração estivesse começando a se acostumar à dor, a dor que tantas vezes a visitara e parecia querer tornar-se amiga. Nem mesmo no prazer da solidão orgásmica conseguia excitar-se, pois lhe vinha à mente a imagem de quem, só por um olhar já lhe causava certos incômodos de orgasmo. Ela tossia, sabia que cada cigarro que fumava diminuiria-lhe um segundo da vida, mas o que isso importava, quando era o seu sentido da vida que estava indo embora, quem sabe, para nunca mais voltar?

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